A <em>rentrée</em> do PS - Uma nova ameaça

Jorge Cordeiro
Ainda que disfarçada pelas dramáticas consequências de um país a arder, também em resultado da incúria e responsabilidade de anos de políticas de direita, os resultados de uma governação assente em políticas restritivas e de ataques a direitos sociais não foram de férias. O anúncio de nova revisão em baixa das taxas de crescimento; de um aumento de inflação instalada até 2006 a reduzir ainda mais o poder de compra; o aumento do défice da balança comercial ou a persistência das taxas do desemprego — são apenas expressões naturais das opções e orientações da política do actual governo.
O anúncio feito pelo PS de uma rentrée forte destinada a, entre outras coisas, explicar ao país as políticas do actual governo, não deixa de suscitar inquietação. Não se vislumbrando nenhum sinal de reversão no sentido geral da política do governo, a afirmação feita por Jorge Coelho no sentido de que «é obrigação do governo explicar as suas políticas» mais do que uma informação deve ser tida como uma nova ameaça quanto ao rumo da política do governo do seu partido.
Do ponto de vista partidário ficou o país a saber com o que contar, no tempo mais próximo, por parte do PS: um comício para mobilizar as hostes e sobretudo «explicar ao país» o que ingratamente os portugueses teimam em não perceber; uma reedição das Nova Fronteiras que, conhecendo-se o conteúdo das primeiras e o rol de promessas não cumpridas aí afirmadas, servirá sobretudo para um momento de reunião do infindável naipe de bafejados por uma nomeação para um qualquer ministério ou empresa pública e para a desfile do enxame de interesses que gravitam em torno do governo e das suas opções; e uma convenção autárquica onde, para além das citadas explicações e do elogio do poder, ficará por desvendar o leque de medidas que o governo prepara no pós 9 de Outubro mas, tacticamente, não anuncia.
Mais do que explicações, o que o país reclama é a mudança do rumo da política nacional. Mais do que justificar o que, para a larga maioria, não pode ser justificável, o que se exige é que o PS esclareça, preto no branco, se passadas as eleições autárquicas e a colheita de votos, o que para aí vem será o aumento da idade da reforma, cortes nos subsídios de desemprego e de saúde, imposição arbitrária da redução dos salários reais dos trabalhadores, novos ataques a direitos e conquistas socais.


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